Shell avalia aquisição da BP em possível megafusão no setor de petróleo

A Shell está trabalhando com consultores para avaliar uma potencial aquisição da BP, embora esteja aguardando quedas adicionais nas ações e nos preços do petróleo antes de decidir se avança com uma oferta, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.

A gigante do petróleo tem discutido mais seriamente a viabilidade e os méritos de uma aquisição da BP com seus consultores nas últimas semanas, disseram as pessoas, pedindo para não serem identificadas porque a informação é privada.

Qualquer decisão final provavelmente dependerá de se as ações da BP continuarão a cair, disseram as pessoas. As ações da BP já perderam quase um terço de seu valor nos últimos 12 meses, à medida que um plano de recuperação não agradou aos investidores e os preços do petróleo despencaram. A Shell também pode esperar que a BP faça contato ou que outro pretendente dê o primeiro passo, e seu trabalho atual poderia ajudá-la a se preparar para tal cenário, disseram algumas das pessoas.

As deliberações estão em estágio inicial e a Shell pode optar por se concentrar em recompras de ações e aquisições complementares em vez de uma megafusão, disseram eles. Outras grandes empresas de energia também têm analisado se gostariam de fazer uma oferta pela BP, disseram as pessoas.

As ações da Shell caíram cerca de 13% na bolsa de Londres nos últimos 12 meses, dando à empresa um valor de mercado de 149 bilhões de euros (US$ 197 bilhões ou R$ 1,1 trilhão). Isso é mais do que o dobro da capitalização de mercado da BP, de 56 bilhões de euros (R$ 360 bilhões).

A BP tem enfrentado um desempenho fraco prolongado, decorrente em grande parte de uma estratégia de emissões líquidas zero adotada por seu ex-CEO Bernard Looney. Seu sucessor, Murray Auchincloss, anunciou uma reformulação em fevereiro que incluiu um retorno ao petróleo, cortes nas recompras trimestrais de ações e promessas de vender ativos.

A guerra comercial do presidente dos EUA, Donald Trump e uma aceleração surpresa no fornecimento pela Opep+ desde então empurraram o petróleo Brent bem abaixo de US$ 70 por barril (R$ 398) —a premissa de preço para as metas financeiras da BP. O grupo concordou no sábado (3) com outro aumento de produção em junho, uma medida que parece destinada a aprofundar o colapso nos futuros do petróleo.

Os investidores estão ficando impacientes. A firma ativista Elliott Investment Management tornou pública uma participação de 5% na BP e está pedindo à empresa que considere medidas mais transformadoras.

A Elliott vê o plano da BP como carente de ambição e urgência, e acredita que isso poderia potencialmente expor a empresa a uma aquisição, informou a Bloomberg em abril.

Sob o comando do CEO Wael Sawan, a Shell também tem cortado custos, eliminado unidades de energias renováveis com baixo desempenho e redirecionado o foco para combustíveis fósseis. Embora as ações da Shell tenham superado as da Chevron e Exxon Mobil nos últimos anos, a avaliação da empresa ainda não alcançou a de suas grandes rivais petrolíferas nos EUA.

Sawan disse aos analistas na sexta-feira (2) que a Shell “é claro” continuará analisando oportunidades inorgânicas, mas será prudente e “o padrão é alto”. Qualquer acordo precisaria adicionar fluxo de caixa livre por ação em um período relativamente curto, afirmou.

“Eu disse no passado que queremos ser caçadores de valor. Hoje, caçar valor —na minha opinião— é recomprar mais ações da Shell”, disse Sawan na teleconferência.

Ele acrescentou que “precisamos ter nossa própria casa em ordem” antes de considerar aquisições de grande porte, e que a empresa tem “mais trabalho a fazer” para atingir seu pleno potencial, apesar do progresso feito nos últimos dois anos. A Shell está fazendo negócios onde tem capacidade de criar valor, como com sua compra da comerciante de gás natural liquefeito Pavilion Energy, disse Sawan.

Uma aquisição bem-sucedida da BP poderia impulsionar o crescimento da produção da Shell, permitindo que a empresa recupere exposição aos EUA, depois de vender seus ativos de xisto da Bacia do Permiano para a ConocoPhillips em 2021. Qualquer transação provavelmente eclipsaria a aquisição do Grupo BG pela Shell em 2016, um acordo avaliado em cerca de US$ 50 bilhões (R$ 284 bilhões).

“Como dissemos muitas vezes antes, estamos fortemente focados em capturar o valor na Shell através da contínua concentração em desempenho, disciplina e simplificação”, disse um porta-voz da Shell em comunicado por e-mail. Um representante da BP recusou-se a comentar.

Ações de BP sobem após possível megafusão

Os recibos de depósito americanos da BP subiram 1,9%, nesta segunda-feira (5), para US$ 28,64 (R$ 163) às 9h33 em Nova York. Outras grandes produtoras de petróleo listadas nos EUA caíram, acompanhando a queda nos preços do petróleo.

Uma combinação bem-sucedida da Shell e BP seria uma das maiores aquisições da história da indústria petrolífera, reunindo as icônicas gigantes britânicas em um acordo que tem sido discutido intermitentemente por décadas. As empresas já foram rivais próximas —com tamanho, alcance e influência global semelhantes— mas seus caminhos divergiram nos últimos anos.

(Bloomberg)

Autor/Veículo: Folha de São Paulo

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